sexta-feira, 4 de março de 2022

A ARTE DE FAZER TROVAS * Messias da Rocha / MG

 A ARTE DE FAZER TROVAS


Um antigo provérbio latino reza que “Poeta nascitur, non fit”. Traduzindo “o poeta nasce, não se faz” O trovador é, na realidade, uma espécie característica de poeta. A simplicidade na definição da trova, leva muita gente a crer que fazer trova é uma tarefa simples. Mas não é bem assim. Na sua pequenez, muitas trovas encerram lições gigantescas. Basicamente, “a TROVA é uma composição poética de quatro versos septissílabos (sete silabas poéticas) contados até a última sílaba tônica, com rimas obrigatórias do 1º com o 3º verso e do 2º com o 4º, (ABAB), sendo que os mesmos deverão expressar, em seu conteúdo, um pensamento completo”. Destaquei o último trecho da definição em itálico, porque nele está o segredo de como se dá um bom tempero à criação de uma trova. Muitos trovadores, afoitos, leem o regulamento de um concurso fazem logo os quatro versos com a palavra tema e, imediatamente, providenciam seu envio. Não é um procedimento aconselhável. 


A boa trova deve conter, além da ideia completa, um quê de criação, de invenção, de achado. Aquela frase muito repetida de que, “na vida nada se cria, tudo se copia”, é falsa. A cada dia inúmeras e belíssimas ideias são forjadas pela mente humana. Mas não basta apenas isto. Mesmo usando termos muito simples, a trova ganha sempre mais beleza com o uso de palavras adequadas, que, emparelhadas com cadência, ritmo e harmonia, resultarão, com certeza, numa pequena e bela construção poética. Por isso, a trova deve ser pensada, trabalhada, reestruturada, se preciso for. Não tenham pressa. Para terminar vou lhes contar um fato acontecido com os trovadores Hegel Pontes e Tadeu Hagen relatado a mim pelo Tadeu. Caminhavam os dois, pelo Calçadão quando, de repente, Hegel saiu apressado, foi até um Café, pegou pedaço de papel escreveu alguma coisa e voltou. –O que foi? Perguntou-lhe o Tadeu. Hegel respondeu: - Há mais de dez anos eu buscava uma palavra para completar uma trova. Essa palavra ocorreu-me agora. Anotei para não esquecer. 


Termino dizendo que fazer trova é, de fato, uma arte. E nenhuma arte requer pressa. Muito pelo contrário. Isto não quer dizer que trovas surgidas num lampejo repentino sejam ruins. Acontece e muitas vezes, versos surgidos, subitamente, resultam em trovas geniais. Não tenham pressa, mas nunca desperdicem seus versos lampejantes. 


 Messias da Rocha / MG

(Publicado originalmente no Boletim da Delegacia da UBT - SANTOS DUMONT)

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